O mês do Halloween chegou e, enquanto não termino meu filme com as fotos do outono, resolvi tirar a poeira da minha câmera digital e fazer fotos do primeiro livro que comprei da Darkside. Eu ficava só namorando as edições lindas que via o pessoal compartilhando por aí e resolvi adquirir a minha quando meus pais estavam de viagem marcada pra cá e poderiam trazer pra mim. Foi muito difícil escolher o que eu ia comprar, mas essa edição da HQ “O Corvo” ganhou o meu coração gótico.
Continue Reading…Gosto da palavra forasteira, por isso a escolhi para escrever este post. Acho que ela soa mais parte da língua portuguesa do que estrangeira ou expatriada, pois estas me lembram palavras em inglês: stranger e expat. Forasteira é aquela pessoa que vem de fora, uma outsider, deslocada de seu lugar original. Combina com a forma como sempre me senti por conta dos meus gostos peculiares. Isso me tornou uma pessoa boa em encontrar e me conectar com pessoas com gostos parecidos aos meus e me fez explorar novos universos. Ou seja, eu já era meio forasteira mesmo antes de me mudar da minha cidade natal.
Continue Reading…Há dois anos, reli um dos meus livros preferidos da vida: “A insustentável leveza do ser” do escritor tcheco Milan Kundera. Fiz a primeira leitura em 2005 e assisti a adaptação do livro para o cinema um pouco depois. Gostei bastante da história, mas nessa segunda leitura, fez muito, mas MUITO mais sentido pra mim.
Na primeira leitura, eu nem sabia que o autor era tcheco e não tinha nenhuma informação sobre a primavera de Praga. Já na segunda leitura, além de ter essas informações, eu estava morando no leste europeu e já estava bem mais madura, com muito mais vivências, então a história ganhou outros significados, com muito mais camadas e me trouxe muitas reflexões sobre a vida e todos os seus contrastes.
Continue Reading…Em 2010, comecei a ler “Sobre fotografia” da Susan Sontag, mas nem cheguei a terminar o terceiro ensaio. Definitivamente, não estava preparada para encarar esse livro naquela época e abandonei a leitura. Resolvi começar a leitura novamente no ano passado e ela fluiu. É impressionante o quanto esse livro (lançado em 1977) continua absurdamente atual. A autora faleceu em 2004 e nem chegou a ver toda essa febre de redes sociais na internet e isso torna a leitura ainda mais impactante. Anotei vários trechos e refleti sobre muitas questões relacionadas à fotografia e à vida. Deixarei registradas aqui algumas das minhas anotações para vocês refletirem também.
Já começo logo com essa citação que tem tudo a ver com uns posts que já fiz aqui sobre tempo: “Fotos fornecem formas simuladas de posse: do passado, do presente e até do futuro”. Essa frase faz parte do último ensaio, intitulado “O mundo-imagem”. O livro contém 6 ensaios e uma “Breve antologia de citações”, a maioria delas de fotógrafos, mas há algumas de filósofos também. Afinal, a fotografia envolve muito pensamento, muitas questões, muitas reflexões.
Continue Reading…Primeiro mês do ano e aquele pensamento de “o que vou fazer esse ano?”, avaliação sobre “o que fiz no ano passado?” tomam conta da nossa mente não é? Então, achei que esse era um bom post para tirar do rascunho. Planejar é uma coisa, partir para ação já é outra história e no meio mora a famosa procrastinação.
Quando fui para Moscou no ano passado, visitei o Center of Photography The Lumiere Brothers e uma das exposições que estavam lá era do fotógrafo japonês Ikuru Kuwajima. Ele se inspirou no livro “Eu, Oblomov”, escrito por Ivan Goncharov em meados do século XIX, para criar essa série fotográfica cujo tema é justamente a tal da procrastinação que ganhou o nome de “oblomovismo” na Rússia por conta do personagem principal dessa história.
Em março, participei de uma visita guiada ao Museu do Bulgákov que funciona na casa onde o escritor e sua família viveram entre 1906 e 1919. A casa localiza-se na histórica rua Andriyivsky Uzviz. Eu ainda não tinha visitado esse museu porque queria ao menos ler algo do escritor antes de conhecer a casa onde ele morou. Em 2016, li “O mestre e Margarida”, sua obra mais famosa. Fiquei bem animada quando fiquei sabendo sobre essa visita guiada. Já adianto que adorei conhecer a casa por dentro e compartilho as minhas fotos preferidas.
Esse post não é uma resenha sobre esse livro, mas um relato sobre a minha experiência de leitura. Demorei um bocado para terminar de lê-lo porque ele é extremamente metafórico e eu não estava com a minha capacidade de abstração completamente liberada. Apesar disso, ainda consegui captar bastante coisa. Insisti na leitura porque não gosto de abandonar livro, mas isso mudou graças a essa leitura. Desconfio que talvez seja exatamente esse um dos efeitos que o Jonathan Safran Foer quis causar no leitor.
“Tudo se Ilumina” é o primeiro livro dele e foi resultado de uma viagem que ele fez para a Ucrânia com o intuito de expandir sua tese, após a conclusão da licenciatura em Filosofia. Ele também escreveu “Extremamente Alto e Incrivelmente Perto” (também adaptado para o cinema) e “Comer Animais”. O cara tem um talento e uma sensibilidade incrível com as palavras. Ele consegue construir umas metáforas belíssimas. Só lendo mesmo pra entender.
Em fevereiro, li mais um livro que tem relação com a Ucrânia. O escritor Leopold von Sacher-Masoch nasceu em Lviv (que se chamava Lemberg) em 1836 e, nessa época, a cidade fazia parte do império Austro-Húngaro. Você pode nunca ter ouvido falar desse livro ou desse autor, mas com certeza conhece o termo masoquismo. Pois bem, esse é o tema central de “A vênus das peles”, porém ainda não existia um nome para essa tendência em 1870, ano de lançamento do livro que imortalizou Masoch. O psiquiatra Richard von Krafft-Ebing foi o responsável por criar o termo que deriva do nome de Masoch e seu trabalho repercutiu nos meios intelectuais e literários de todo o mundo ocidental. Em 1905, Freud publicou os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” e usou o mesmo termo, popularizando-o de vez.
A história de Masoch também serviu de inspiração para a música “Venus in Furs” da banda Velvet Underground. Essa música é uma das faixas do famoso “disco da banana” e esse vinil lindo da foto abaixo foi comprado aqui em Kiev (contei nesse post). Confesso que só fui descobrir a conexão entre o livro e a música depois que visitei o bar temático que leva o nome do autor e fica em Lviv, sua cidade natal. Aí pronto, me senti na obrigação de ler o livro neh!
Mês passado, li o aclamado livro da jornalista Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2015. Ela nasceu na Ucrânia em 1948, mas viveu boa parte da sua vida na Belarús (ou Bielorrússia). O livro traz depoimentos de pessoas que tiveram suas vidas completamente transformadas pelo acidente nuclear ocorrido em abril de 1986. Em 2016, a editora Companhia das Letras o publicou pela primeira vez no Brasil e eu tenho algumas críticas a fazer a essa edição. Me pareceu que a editora quis pegar carona no hype do Nobel e publicou o livro sem atualizações, o que induz a um raciocínio equivocado por parte dos leitores. A primeira publicação de Vozes de Tchernóbil é de 1997, ou seja, a edição brasileira foi publicada quase 20 anos depois e, de todas as resenhas que assisti no You Tube, nenhuma mencionou isso. Convenhamos que em 20 anos muitas coisas aconteceram, não é mesmo?
Provavelmente, muitas pessoas que foram entrevistadas pela autora nem estão mais vivas. A nota histórica que abre o livro está tão desatualizada que se torna completamente desnecessária. O projeto do abrigo para cobrir o reator número 4 citado nessa nota ficou pronto em novembro do ano passado (o vídeo abaixo é um documentário da BBC sobre a construção do abrigo) e não há nenhuma menção sobre isso. Daí em muitas resenhas que assisti as pessoas falam como se o reator estivesse lá abandonado com a mesma cobertura construída às pressas em 1986. A editora simplesmente traduziu o livro do jeitinho que ele foi publicado em 1997 e acrescentou somente o discurso que a autora fez na cerimônia do Prêmio Nobel, em dezembro de 2015. Acho que um livro de não-ficção merece um trabalho mais cuidadoso no que diz respeito a notas mais esclarecedoras e atualizadas.
Vamos tirar a poeira desse blog? Vaaaamos! Bom, continuo a minha jornada de leituras relacionadas à Ucrânia e de imersão na cultura eslava. No final do ano passado, li o livro do autor Angelo Segrillo sobre os russos. A Editora Contexto tem uma coleção dedicada a vários povos e, como não há um livro específico sobre os ucranianos, li esse sobre os russos que inevitavelmente fala um pouco sobre a Ucrânia, já que toda a história começou aqui em Kiev. Angelo Segrillo é professor de História Contemporânea na USP e especialista em Rússia e URSS. Ele morou e estudou na Rússia e escreveu diversos livros sobre o país. Esse livro é bem legal para o leitor ter uma ideia geral sobre a cultura, a história, a geografia e os costumes russos, alguns deles compartilhados pelos ucranianos.