Vamos tirar a poeira desse blog? Vaaaamos! Bom, continuo a minha jornada de leituras relacionadas à Ucrânia e de imersão na cultura eslava. No final do ano passado, li o livro do autor Angelo Segrillo sobre os russos. A Editora Contexto tem uma coleção dedicada a vários povos e, como não há um livro específico sobre os ucranianos, li esse sobre os russos que inevitavelmente fala um pouco sobre a Ucrânia, já que toda a história começou aqui em Kiev. Angelo Segrillo é professor de História Contemporânea na USP e especialista em Rússia e URSS. Ele morou e estudou na Rússia e escreveu diversos livros sobre o país. Esse livro é bem legal para o leitor ter uma ideia geral sobre a cultura, a história, a geografia e os costumes russos, alguns deles compartilhados pelos ucranianos.
Gostei bastante do livro e ele me ajudou a entender melhor a história, toda a questão da Revolução Russa, o período da União Soviética e o fim da União Soviética até a chegada do Putin ao poder. O autor explica de forma clara, fácil e resumida e dá pra entender direitinho toda a sequência de acontecimentos que era muito fragmentada na minha cabeça. Todas essas informações ajudam bastante a entender a literatura russa, pois sabemos que a arte sempre reflete algo sobre a época em que foi criada. Inclusive, o autor cita várias obras e faz essa ligação, tornando a leitura muito interessante e leve. Com certeza ficarei consultando esse livro de tempos em tempos.
O livro é recheado de fotos como essa do Trótski que eu não sabia que tinha nascido na Ucrânia. A única coisa que eu lembrava sobre o Trotski é que ele teve um caso com a Frida Kahlo durante o período do exílio no México. A revolução russa aconteceu em 1917, ou seja, esse ano é o centenário da revolução e é uma boa oportunidade para ler sobre o tema.
Em seguida, li “Um diário russo”, que é um relato da visita que o escritor e jornalista John Steinbeck e o fotógrafo Robert Capa fizeram à União Soviética em 1947. Gostei demais desse livro, li rapidinho. É meio como estar lendo um blog de viagem, como se você estivesse viajando junto com eles. Os capítulos 4 e 5 se passam na Ucrânia e dá pra ter uma boa ideia de como estava Kiev dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. O clima era de esperança e reconstrução e todos estavam bem felizes com o fim da guerra.
“As pessoas aqui haviam sido extremamente hospitaleiras, atenciosas e generosas – e havíamos gostado muito delas. Era uma gente inteligente e risonha, com senso de humor, uma gente animada. Em meio às ruínas de seu país, os ucranianos estavam empenhados em construir novas residências, fábricas, máquinas e uma nova vida. E sempre nos diziam: ‘Voltem daqui a alguns anos para ver o que temos realizado’.”
Foi bem legal descobrir que a impressão de John Steinbeck sobre os ucranianos é absurdamente parecida com a minha e já comentei sobre isso aqui no blog. O trecho a seguir ilustra bem isso: “Embora Kiev tenha sofrido uma grande devastação, o que não ocorreu em Moscou, os moradores da cidade não têm a aparência de profunda fadiga que se nota nos moscovitas. Não se arrastavam ao caminhar nem tinham os ombros curvados, e além disso, riam nas ruas. Claro que isso pode ser apenas um traço local, pois os ucranianos são diferentes dos russos, constituindo uma espécie à parte de eslavos.”
No mesmo parágrafo ele comenta sobre a língua: “E, ainda que a maioria dos ucranianos saiba falar e ler russo, eles dispõem de uma língua própria, mais próxima das línguas eslavas meridionais do que do russo. Muitos termos ucranianos, sobretudo os relativos à agricultura, assemelham-se a palavras húngaras, enquanto outros são encontrados também no tcheco, mas não no russo.” Já escrevi sobre o meu aprendizado da língua ucraniana e fica cada vez mais claro o quanto ela é diferente da língua russa e adorei ler sobre isso nesse relato.
John Steinbeck tem uma escrita deliciosa e bem humorada e eu morria de rir a cada comentário dele sobre o Capa e seus hábitos. Me identifiquei muito com o fotógrafo que ficava mal humorado por não conseguir fazer as fotos que queria e a eterna insatisfação com as próprias fotos que acho que é comum a todos os fotógrafos. Bom, para finalizar, uma última citação com a qual me identifiquei demais, pois passei por essa mesma experiência antes de me mudar para cá: “Quando as pessoas ficaram sabendo que estávamos de partida para a União Soviética, fomos bombardeados com conselhos, advertências e alertas, a maioria deles, é preciso dizer, de gente que jamais estivera naquele país.” É só trocar União Soviética por Ucrânia que seria facilmente eu escrevendo…
Alguém aí conhece esses livros? Em breve falarei sobre outro livro lido em janeiro que tem tudo a ver com a Ucrânia, aguardem.
Um Diário Russo é mesmo muito gostoso de ler, to pra resenhar no blog há um tempão, haha. O primeiro eu não conhecia, obrigada pela dica! 🙂
Por nada! Em 2015 eu li o livro do Capa, “Ligeiramente fora de foco” que é ótimo também. Ele devia ser um cara muito interessante.
“Os Russos” está na minha lista de leituras para esse ano. 🙂 O outro eu não conhecia, mas vou tentar ler em breve. Obrigada pela dica!
Legal, Evana! Espero que goste. 🙂
Cara, adoro isso de você querer imergir na cultura mesmo, saber mais da história, arte e cultura do país onde você mora. Acho isso muito legal, respeitoso, digno mesmo, sabe? Eu tento sempre visitar museus e ler sobre a história da Irlanda também, acho que é o mínimo que podemos fazer em troca da oportunidade de vivermos nesses países, não é?
Eu gosto muito de aprender coisas novas, Bárbara. E acho que esse é o melhor momento da minha vida para aprender mais sobre esse de lado de cá da Europa que ficou escondido do mundo ocidental por tanto tempo. Estou aproveitando tudo que posso.
Trotski teve um caso com a Frida Kahlo? Caramba, eu nem fazia ideia disso (e cá estou eu a declarar minha ignorância publicamente). O seu blog é foda mesmo, com o perdão da palavra. A gente sempre aprende algo quando passa por aqui. 🙂
Eu não conheço esses livros e me interessei pelos dois. A lista de espera só aumenta, tanta coisa legal para ler.
Pois é menina, babado neh! Eu sabia disso por conta do filme sobre a Frida e confesso que só fui me interessar por ela após assistí-lo há uns bons anos. Caso não tenha assistido ainda, fica a minha dica.
[…] John Steinbeck e Robert Capa visitaram a União Soviética em 1947, foram questionados várias vezes se os EUA lançariam uma bomba lá como fizeram no Japão. Foi […]
Só depois de ler “os russos”
q consegui vislumbrar a complexidade dos acontecimentos pós revolução de 17 até os dias de hj. Uma maçaroca danada!
Off tópic: viu La La Land?
Sim, eu também tinha pouquíssima informação sobre toda a história da Rússia e esse livrinho conseguiu dar um panorama geral sem ser chato. Sobre La La Land, ainda não assisti, mas já vi que ele divide opiniões. Você gostou?
Eu amei! Achei q vc pudesse gostar, pq tem um link com Just Kids
Hum! Assistirei, só não sei quando.