Comentei nesse post que tenho pensado muito sobre o tempo. Quando me mudei pra Ucrânia, vim muito feliz porque finalmente teria tempo. Enquanto morava no Brasil, eu sentia que estava sempre correndo contra ele, trabalhando e estudando pra concursos. Nunca sobrava tempo para fazer coisas que realmente gosto e fazem sentido pra mim. Eu não sentia que estava vivendo, só me sentia viva quando estava de férias. A fotografia, que era minha válvula de escape, estava abandonada. Comecei a ler um livro em 2012 e só consegui terminar de ler aqui, em 2015! Sei que sou uma pessoa lenta e o estilo de vida corrido não combina comigo, definitivamente. Eu vivia cansada e me sentia muito errada porque estava tentando acompanhar um ritmo que não era o meu. Eu precisava de uma pausa, do tal “ano sabático”. Só aqui tive tempo para me autoanalisar e percebi que estava me desrespeitando, tentando ser alguém que eu não sou para atender as expectativas dos outros e isso estava me fazendo mal.
Muita gente me perguntava “mas o que você vai fazer?” e cada hora eu respondia uma coisa. Muitas pessoas consideram que alguém só está fazendo alguma coisa se estiver num trabalho convencional. E não, esse tipo de atividade não é uma possibilidade pra mim na Ucrânia, muito menos uma vontade. Pra quê essa pressão de ter que estar fazendo um trabalho convencional? Eu super feliz que a vida me deu essa oportunidade de não precisar trabalhar e o povo querendo que eu trabalhe! Eu sou do time do Jaiminho (do Chaves), evitando a fadiga sempre.
Estou nesse processo de transição de carreira e percebo que valeu a pena passar 10 anos trabalhando só pelo dinheiro porque agora ele me deu liberdade para me dedicar à profissão que eu sempre quis seguir. Sempre procurei gastar menos do que eu ganhava e sempre guardava uma parte da grana. Meu dinheiro pagava as contas e bancava as coisas que eu realmente gosto: viagens, fotografia, livros, discos, decoração, shows, passeios, restaurantes… O dinheiro te dá liberdade pra fazer as coisas do seu jeito, na hora que você quer. Como disse Coco Chanel, “o dinheiro nunca significou muito pra mim, mas a independência (conseguida com ele), muito.” Fotografar é a atividade que eu tinha certeza que eu ia exercer na Ucrânia sem ter que me preocupar se ela ia me dar algum retorno financeiro. Por isso criei esse blog, assim eu teria um motivo para sair e fotografar.
Eu sempre soube que comunicação era a minha área e que eu queria criar, mas levei um tempão para descobrir qual direção seguir. Só sabia que música, línguas, fotografia, cinema, escrita e desenho eram coisas que me fascinavam. Por um longo período acreditei que jornalismo seria minha profissão porque eu poderia escrever sobre música, poderia fotografar, poderia trabalhar na MTV. Sonhar não custa nada, especialmente quando você é adolescente hehe Esse meu espírito adolescente nunca morreu e hoje tenho condições de alimentá-lo e dar asas à minha imaginação. A fotografia entrou de vez na minha vida em 2007 quando resolvi pegar uma grana e investir num curso. Já estava devidamente inserida no mercado de trabalho e sentia necessidade de fazer algo que eu realmente gostasse.
Quem trabalha com criação sabe das dificuldades de investir muito tempo para dominar uma técnica, lidar com a frustração várias vezes por não conseguir chegar aos resultados que se tem em mente, lidar com as pessoas insinuando que você não está fazendo nada… (um beijo, George R.R. Martin!) Ninguém nasce com talento, isso é um grande mito. Os bons resultados são frutos de muita dedicação, pesquisa, estudo, persistência e, quando o reconhecimento vem, aí é só alegria! Quando as pessoas estão dispostas a pagar pelas suas criações, é sinal que você está pronto. Eu nem sequer estava pensando em trabalhar com fotografia quando surgiu a oportunidade e eu resolvi dizer sim, mesmo sem saber direito como lidar com o lado business da fotografia. Então, desde o ano passado, venho estudando e aprendendo na marra a ser fotógrafa profissional. Bem Win Wenders e Aprendenders Style.
As fotos desse post foram feitas em dias completamente diferentes, mas de certa forma dialogam entre si e refletem os meus pensamentos. Trouxe pra casa esses balões de um aniversário de um aninho que fotografei porque queria usar em alguma foto. Não sabia exatamente como, mas eu curto balões e sabia que ia sair alguma coisa. Um dia fiz o “auto-retrato”. Percebam que o balão ainda estava cheio. Às vezes nem eu entendo de onde vêm as minhas ideias, mas depois de um tempo as imagens começam a fazer sentido pra mim. É como se o meu inconsciente estivesse tentando me mandar uma mensagem. Guardei os balões após fazer a foto e só fui fotografar de novo dias depois. Os balões começaram a murchar e não flutuavam mais. Mesmo assim achei legal e fui fazendo umas fotos até chegar no outro “auto-retrato” que abre esse post. De novo não fiz a foto com uma mensagem consciente, mas depois ela fez sentido.
O auto-retrato seguinte foi de um dia que estava batendo uma luz linda no banheiro e lá fui eu registrar. Ela é fruto do acaso porque o foco automático da câmera focou no relógio e na mão, não no meu rosto. Deixei as fotos desse dia encostadas, mas depois estava mexendo nelas novamente e essa imagem passou a fazer sentido porque ando nessa vibe de pensar no tempo e a câmera veio focar justamente no relógio, o símbolo maior do tempo! Me lembrou demais essa “Poesia do Tempo” da Viviane Mosé porque ela diz “o tempo a vida anda passando a mão em mim”. Se você não conhece essa poesia, clique no vídeo abaixo para assistir a interpretação maravilhosa dela.
Se você chegou até aqui, parabéns! E obrigada por ter dedicado seu tempo à leitura do texto e das fotos. Fotografia significa escrever com a luz, é uma linguagem e eu crio mensagens com as imagens que muitas vezes nem sequer são lidas. Transformar ideias em imagens é uma atividade que requer tempo, referências, criatividade e ação. Não sou muito boa falando, por isso preciso de outros recursos para me expressar. Pelo menos consegui encontrar a minha linguagem. Sigo nessa busca e de vez em quando vou aparecer aqui para registrar alguns resultados dessa fototerapia hehe. Me contem aí nos comentários qual foi a interpretação de vocês para essas imagens que eu conto o porquê elas fazem sentido pra mim.
Que bonito esse texto! Fico feliz que você esta fazendo o que gosta e o que te inspira.
Você tem razão, hoje em dia existe uma pressão para trabalharmos muito e esquecermos de outras coisas. Eu me sinto da mesma forma que você, sei que não nasci para esse mundo agitado do mercado de trabalho, da correria e da competição. Mas, como você disse, isso traz dinheiro e com o dinheiro vem a liberdade. Por enquanto sigo em frente! Sabendo que um dia terei essa liberdade. Esse texto com certeza foi uma inspiração para me fazer seguir meus sonhos.
Muito sucesso para ti <3
Beijos
Ai Ana, que legal ler teu comentário! Fiquei meio apreensiva de fazer esse post, mas o feedback foi tão positivo que acho que valeu super a pena seguir minha intuição. A internet abriu uma porta maravilhosa para novas formas de trabalhar e estudar e a gente precisa saber usar isso a nosso favor. Fico muito feliz que o texto tenha te inspirado! Sucesso pra você também!
Fico feliz que se encontrou 😀
Agora é a hora de investir no que eu realmente gosto. 😀
Texto e fotos lindos! É uma sensação libertadora ficar em paz com as nossas escolhas, mesmo que à revelia do “senso comum”. Porque é o que você falou: as pessoas acham que carreira é só aquilo de bater cartão, sentar na frente do computador, e ficar lá o dia inteiro. Mas mesmo a gente sabendo que há muita vida além disso, as vezes ficamos presos porque é isso, um senso comum, e fugir dele demanda as vezes responder tanta pergunta, engolir tanto sapo, que a gente acaba entrando na onda. Mas que bom que você se encontrou, se “rebelou”, e ta feliz com tudo isso! Você merece, e o seu talento de fotógrafa, conquistado com estudo e dedicação, merece também <3
Ai Gabi, que delícia ler isso! Tão bom ser compreendida neh, achar sua turma. A vida dá umas viradas e a gente tem que saber aproveitar essas oportunidades e desconsiderar alguns comentários contra porque sempre vai ter. Mas quando a gente faz as coisas com o coração, dá certo. Beijão!
Te entendo perfeitamente!! Eu tbm estou num sabático obrigatório por causa de uma demissão!! Hahaha, mas ainda assim pude me conhecer mais e dedicar mais tempo para mim! Também mudei de país (moro na Irlanda hoje) e estou me preparando para começar um novo emprego. Posso dizer que estou mais do que pronta para retomar a minha vida profissional e não repetir os erros do meu antigo emprego! Acredito que esse tempo parada veio em ótima hora e não poderia ter sido melhor! 🙂
Boa sorte na nova etapa da sua vida!
Beijão!
Oi Bia! Tudo é uma questão de perspectiva neh? Temos que partir para a ação porque ficar chorando em posição fetal quando acontece algo ruim não vai mudar nada neh? Boa sorte no teu novo emprego e sucesso! Beijos.
Texto e fotos lindas, Ale. Obrigada por isso ❤
Obrigada, Kat! Significa muito vindo de uma fotógrafa talentosa como você. Imagino que você deva ter se identificado com meu texto. Sigamos juntas criando! Beijão.
que texto tão motivador, eu vivo num momento que quero me encontrar e não viver tão presa a esse mundo material, já doei várias coisas e estou tentando arrumar mais tempo pra mim, infelizmente ainda tenho um tempo pra juntar mais dinheiro e ter essa tranquilidade, ler as suas palavras dão ainda mais motivação. Um grande beijo
Oi Flávia! Que feliz que o texto te motivou! As coisas mais valiosas da vida não são materiais, mas às vezes demora um bocado para a gente enxergar isso. Mas na hora que a gente enxerga também, ninguém segura! Junta grana, aprende a fazer ela trabalhar pra você, se cuida e seja feliz. Beijão!
Ale, te acompanho caladinha, mas hoje resolvi comentar. O tempo anda me comendo! E sigo pensando no que quero pra minha vida. E sigo em crise com a fotografia, e sigo…
Bom ver que a gente encontra uma saída. Cada um a sua, é claro. Mas há saídas.
Um beijo
Oi Mell! Que bom que esse post te inspirou a comentar! O tempo anda comendo todos nós, essa é a verdade. Procura aí dentro de você o que realmente faz seu coração bater mais forte. Há alternativas sim e sinais pelo caminho, só precisamos enxergar. Às vezes a gente até vê, mas não enxerga. Boa sorte na tua busca! Beijo.
uma coisa que acho foda é essa necessidade gritante do mundo te enfiar numa universidade, assim que a gente termina o ensino médio, com a ideia de já escolher a profissão da nossa vida e se enfiar numa rotina louca de trabalho pra conquistar os bens materiais que teoricamente todo mundo precisa pra sobreviver nessa selva de pedra. quando eu acho que na verdade, quando possível, a gente precisa é desacelerar, aprender sobre escolhas, sobre benefícios a curto, médio e longo prazo, sobre nossos sonhos, sobre respeitar o nosso corpo, a nossa mente, sobre o que a gente realmente quer naquela momento, sabendo que talvez nem seja isso mas que a gente só vai saber se tentar, e tentar sem medo de errar porque tudo bem, não será tempo perdido. como isso não rola a gente cai na noia fácil né? no desespero da correria, a gente segue o fluxo louco e é sugada sem nem notar a desgraça toda acontecer. eu mesma só fui entender isso quando pude me dar uns meses de descanso e reflexão alguns anos atrás. acho que a vida fica mais leve sabe, mais fácil de engolir. porque até quando a gente acerta, mesmo que temporariamente, a coisa toda vai ter seus prós e contras, os dias bons e ruins. faz parte né? 🙂 a gente só tem que aprender a curtir cada momento, saber quando terminar e quando começar. sei lá, não ter tanto medo de mudar e saber que pode voltar atrás ou que coisas muito mais legais podem acontecer quando a gente começa do zero 🙂
Ba, o mundo está numa transformação veloz e novos empregos estão surgindo e a universidade vai ficando ultrapassada a cada dia. Nossa, você falou tudo que eu acredito. Tentar, mudar, fazer o que realmente acredita. A vida é só essa aqui, se não tentar agora vai tentar quando? Com certeza a vida fica mais leve, tanto que eu tatuei a palavra leveza no braço logo antes de sair do Brasil porque eu sabia que tinha chegado a minha hora de desacelerar finalmente. Sim, aceitar que o bom e o ruim fazem parte da vida e que a atitude que você toma a partir de certas circunstâncias da vida é o que vai fazer a diferença é uma lição difícil de aprender, mas na hora que você aprende, tudo fica mais calmo. Coisas muito legais acontecem mesmo quando você se abre e tenta algo novo. O feedback desse post é um exemplo disso e olha que eu pensei muito se liberava ele ou não, mas resolvi arriscar e não me arrependi. Bom saber que tem mais gente como eu por aí. 😀 😀 😀
Que post bonito! Acabei só vendo agora, mas acho que no mundo de hoje em dia qualquer pessoa que pode seguir os seus sonhos é muito focada. Não digo sorte porque como você mesma disse foi planejamento, foi trabalhar muito tempo juntando dinheiro pra poder seguir o que você realmente quer e sim, são prioridades, mas o amor que temos por algo pode ser maior do que muitas coisas momentâneas e é bonito demais ver isso. Espero, de verdade, que você alcance não somente o que almeja mas muito mais que você nem sabia que era possível. 🙂
Te desejo toda energia positiva possível.
Beijo
Oi Tany! Acho que a sorte acontece quando você não desvia do seu caminho, daquilo que é verdadeiro e faz sentido pra você. E precisa mesmo ter muito foco e amor pra seguir no seu caminho porque vários obstáculos vão aparecer. MUITO OBRIGADA pelo apoio e por toda a energia positiva. <3<3 Pode ter certeza que ela chega aqui e comentários assim me fazem crer que foi uma excelente ideia ter criado esse blog que atrai tantas pessoas que estão na mesma vibe que eu. Devolvo toda a energia positiva pra você. Beijão!
[…] existencialista e é um prato cheio para quem gosta de psicologia como eu. Já contei nesse post aqui que ando pensando sobre o tempo e Nietzsche é um filósofo que aborda muito esse tema. Tempo tem […]