Cotidiano

4 anos de projeto analógico

September 11, 2023

Há quatro anos, resolvi me dedicar quase que exclusivamente à fotografia analógica. Desde que comecei a fotografar, foi ela que me encantou de verdade. Por mais que eu editasse as fotos digitais inspirada na estética analógica, nunca ficava igual. Cada filme e cada câmera analógica tem características próprias que as câmeras digitais nunca vão conseguir replicar. Há muito tempo eu queria testar filmes diferentes e ver como as cores ficavam em cada um deles para descobrir os meus preferidos. Depois de muito procrastinar, resolvi começar essa jornada em setembro de 2019, após participar do workshop com a Satellite June, que só fotografa em filme.

Meu objetivo era simplesmente usar os filmes que estavam guardados na geladeira há mais de uma década e me familiarizar com a câmera 35mm Olympus OM2n. Depois, passei a testar a Kiev88 (médio formato) porque tinha vários filmes 120 pra gastar. Fiz algumas poucas Polaroids também. Fotografei quase todos os filmes 35mm vencidos, mas ainda há um bocado de 120 aguardando na geladeira. Eu não tinha um tema definido, pois queria fotografar livremente e não ter desculpas para não fotografar. Se eu ficasse colocando muita limitação, ia acabar procrastinando mais do que já costumo procrastinar. Queria ver para onde o meu olhar ia me levar, experimentar a deriva.


Percebi uma recorrência do azul e do vermelho nas imagens. Claro que eu tinha a intenção de descobrir como as cores ficariam dependendo do tipo de filme que eu estava usando, mas não sei porquê essas duas cores apareceram tantas vezes, especialmente o azul. Essa cor tem um simbolismo na história da arte, que pode variar do divino, espiritual até a melancolia, tristeza, tranquilidade, dependendo dos tons e do contexto.


Talvez esse azul tenha aparecido muito por conta de um comentário de uma pessoa que queria que eu editasse um ensaio para ficar com um “azul profundo”. Esse comentário me irritou profundamente e talvez o vermelho venha daí, da raiva que senti por ela querer controlar o azul das minhas fotos, sendo que escolhi um horário específico para fotografar, justamente porque o céu fica no tom de azul que eu quero que apareça nas imagens que registro. Perguntei a ela qual era o tom desse tal “azul profundo” e, obviamente, ela não soube explicar. Só pra constar, a pessoa nunca soube que o comentário dela me irritou.


A maioria das fotos que selecionei para este post são espontâneas, resultado dos passeios que faço por aí, da vida acontecendo, do acaso, das coisas que surgiram pelo meu caminho ao longo desses quatro anos. Acho muito interessante que me deparei com um farol logo no início dessa jornada analógica, lá em Côte d’Azur. Um farol vermelho na imensidão azul do céu sem nuvens, me indicando a direção. Será que é esse o azul profundo? Percebam que esse azul não apareceu novamente, pois não é o azul que eu gosto. Esse é o azul da luz dura, do meio do dia. Meu azul é o azul da luz suave, do pôr do sol. Procuro me planejar para fotografar nesse horário e conseguir o resultado que tenho em mente.


O acaso é uma das coisas que mais me encanta na fotografia analógica, já que não tenho muito controle do que vai sair e nem se vai sair. Feliz demais por ter liberdade para poder criar o que eu quero e no meu ritmo, sem ter prazo e sem ter que dar satisfação pra ninguém. Pra mim, essas imagens são como sonhos que preciso ir interpretando. São como cartas do meu inconsciente. Será que ele está me dizendo para começar intencionalmente um projeto fotográfico em azul e vermelho? Tenho algumas ideias de títulos para essas fotos, mas fiquem à vontade para sugerir títulos nos comentários. Vai que vocês estão vendo nelas algo que não estou vendo. Vou adorar saber.

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4 Comments

  • Reply Gabi September 12, 2023 at 10:56 am

    Ale, amo muito acompanhar o seu olhar! Que fotos lindas, delicadas, fortes… sério! Poesia em imagem <3

    • Reply Alê September 12, 2023 at 1:50 pm

      Querida Gabi, obrigada por deixar esse amor de comentário <3 Adorei saber que você acha as imagens delicadas e fortes ao mesmo tempo. :-**

  • Reply Bárbara October 10, 2023 at 1:03 pm

    De fato, a foto analógica tem um “quê” que nenhum app de fotos digitais consegue copiar. O granulado, as cores, é bem mais lindo mesmo! Suas fotos são sempre tão lindas!

    • Reply Alê October 11, 2023 at 11:26 am

      Não é? Fora a sensação de esperar pra ver se a foto saiu e como cada filme tem suas cores características. Obrigada pelo elogio, Bárbara! <3

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