O bom de se mudar é que você tem que reorganizar todas as suas coisas. Em março, fez um ano que a nossa mudança chegou e eu passei esse último ano arrumando a casa inteira. Desempacotei todas as caixas, limpei, lavei, organizei, doei e joguei fora um bocado de coisas. No meio dessas reorganizações, encontrei uma pen drive com fotos analógicas de 2013 e 2014 que eu não salvei no Lightroom.
Não sei que filme é esse, só sei que a câmera usada foi a Ricoh 35ZF. Tem fotos de uma viagem pra São Paulo, em março de 2013 e as primeiras fotos de Kiev que marido fez logo que ele chegou, em agosto de 2014. Foi o primeiro filme revelado em Kiev e um dos primeiros posts do blog tem foto desse filme.
A foto que abre esse post representa como eu estava nessa época, meio desconectada em relação à fotografia. Só fazia umas poucas fotos com o celular para postar no instagram. Me contentava com os filtrinhos. Nem tocava na Nikon D90 que tínhamos na época. Foi em 2013 que decidimos mudar para a Fuji porque ela era menor e mais leve por ser mirrorless. A gente só estava fotografando em viagens, então fazia mais sentido investir numa câmera leve. Na viagem para a Califórnia, em abril de 2013, compramos a Fujifilm X-E1.
Esse lugar onde ficamos hospedados em SP tinha uma salinha que me lembrou demais a capa de “Without you I’m nothing” do Placebo. Com o celular, fiz a foto da mesinha com as cadeirinhas em frente à janela com a cortina amarela e postei no instagram (por isso eu sei a data dessas fotos). Meu marido fez a minha foto em frente à mesma cortina. Vazou luz dentro da câmera e queimou um pouquinho do filme. É o que acontece quando você está desconectado: sua luz vaza e você queima até desaparecer. Sem a minha paixão, eu era nada.
Não sei quem fez a foto acima, mas eu adoro um neon, pode ser que tenha sido eu. Adoro fazer fotos de coisas escritas também, tenho essa coisa com as letras, com as línguas. Por isso tenho blog, esse negócio de microblog, poucas palavras não é pra mim. A mudança de país, no ano seguinte ao dessas fotos, era a janela de oportunidade que eu precisava na vida. A cortina e a janela se abriram e eu voei para outro país, outra cultura, um novo destino. E coisas lindas acontecem quando você está aberto para mudanças.
A Revolução Euromaidan tinha acontecido poucos meses antes dessas fotos. O avião civil que decolou aqui de Amsterdam tinha sido abatido pelos separatistas no leste da Ucrânia um mês antes dessas fotos. Altas fake news rolando, ucranianos sendo chamados de fascistas, o povo no Brasil dizendo que éramos loucos de mudar para um país em conflito com a Rússia e eu só pensava: “vai dar tudo certo e vou encarar essa mudança com leveza”. Nós já vínhamos acompanhando as notícias em fontes mais confiáveis do que as redes sociais e sabíamos que a situação em Kiev já estava mais tranquila.
Esse blog foi criado no meio do caos, algo parecido com o que estamos vivendo agora. Ficar quietinha em casa não tem sido tão difícil porque aprendi a ficar enclausurada por conta do inverno ucraniano. Ficar sozinha também não é um grande problema pra mim, gosto da minha companhia. Antes de me mudar, algumas pessoas disseram “não vai ficar depressiva hein!” (porque eu ia passar muito tempo sozinha), mas glória à deusa, não tenho tendência a ser depressiva porque, de fato, não é fácil. Nobody said it was easy. Quanto à melancolia, essa sempre foi minha companheira, mas a gente convive bem e eu acho ela bonita. Como está sendo para você?
As duas fotos acima são para ilustrar que vai ficar tudo bem. Pelos meus cálculos, o senhor da foto deve ter nascido durante a Segunda Guerra Mundial e as conservas acima são bem típicas de um lugar que conhece um inverno rigoroso e guerras que fazem com que as pessoas aprendam a se adaptar para sobreviver. Os ciclos de morte e renacimento fazem parte da vida e o mundo já mudou várias vezes. A humanidade precisava mesmo de uma pausa para se reconectar com sua própria natureza. Sem ela, nós somos nada.
Depois da tempestade, vem a bonança e após o inverno, sempre chega a primavera. Um dia de cada vez.
meu deus, alê. que post mais lindo ♥ deu até uma calma depois de ler.
eu ando muito ansiosa com tudo que tá rolando. não por ter que ficar em casa (porque também já estou acostumada) mas, incialmente, por ver todos meus planos e certezas que eu tinha para o futuro (especialmente sobre trabalho) se desfazendo, sabe? depois que esse baque inicial passou, veio o medo de ficar doente, das pessoas que amo ficarem doentes… ainda mais com esse criminoso que a gente chama de presidente comandando o país e falando asneiras todos os dias. enfim, por isso resolvi voltar para o blog também. para ocupar minha cabeça e ficar longe de todos esses medos por pelo menos alguns momentos. alguns dias tô melhor, outros são bem difíceis… e vamos ver no que tudo isso vai dar, né? enfim, amei o post e as fotos. beijos!
Que bom que o post te trouxe calma, K! Longe de mim gerar mais ansiedade em quem entra aqui. Mesma coisa aqui sobre os planos em relação a trabalho e a possibilidade dos meus familiares e amigos (especialmente os do Brasil) ficarem doentes. Infelizmente, não tem nada que possamos fazer em relação a isso, só resta esperar e viver um dia de cada vez, viver no agora. Que bom que você voltou com o blog para ocupar a cabeça, pois adoro seus posts. Beijos!
um dia de cada vez ♥
a gente fica até mais leve depois de ler um post desse. acho que tem sido bem isso, momento de reconecção. o perder o controle de algumas situações e precisar reorganizar as ideias e costumes, pra se encaixar na nova realidade. mesmo que temporária. e isso que considero ter sido bem tranquilo por aqui, digo, na minha casinha. já tínhamos o hábito de ficar em casa, de curtir a nossa própria companhia. mas isso nos faz refletir sobre o que já acontece ao nosso redor, o que consideramos importante de fato, como nos vemos e queremos nos sentir. enfim 🙂 conhecendo novos pedacinhos de nós mesmos no meio de hábitos que já tínhamos. tem sido interessante 🙂
Que feliz que se sentiu leve depois de ler! Foi exatamente a minha intenção. <3 Tem coisas na vida que fogem ao nosso controle, mas a gente tem capacidade de se adaptar a novas situações. Amei que você comentou sobre refletir sobre o que consideramos importante de fato, pois é bem isso mesmo. É importante ter tempo para nós mesmos, para cuidar da gente. E não tava rolando esse tempo na vida de várias pesssoas. Claro que muita gente não tem privilégios e vai passar muita dificuldade, mas isso é outra coisa que foge ao nosso controle. A gente faz o que dá pra fazer, não dá pra bancar o herói ou a heroína. Enfim, que bom que está sendo tranquilo por aí. :-***
Acho que encontrar o seu blog foi uma das melhores coisas nessa minha madrugada de insônia pensando na vida. Tão bom a gente encontrar fotos analógicas que estavam nos esperando! Praticamente uma caça ao tesouro sair decifrando as fotos para lembrar quando e onde foram tiradas. Não salvar os dados das fotos é o lado ruim da fotografia analógica. Ou seria bom?
Enfim, passo dias refletindo sobre essa situação que estamos passando. Como será que vai ser o mundo daqui pra frente? Acredito que nada será igual e no fundo tenho esperança que seja pra melhor. Espero que, com essa pausa, possamos entender com o que realmente vale a pena se importar, mudar os valores de cobrança e exigência que fazemos pra nos consideramos felizes.
Oi Andrea! Que bom saber que meu post te fez companhia durante a madrugada insone. É bem isso, uma caça ao tesouro. Olha, só sei que o mundo será diferente e teremos que nos adaptar a ele. Eu tb espero que possamos aprender com essa pausa e mudar para melhor. MUITO obrigada por comentar, amei o que vc escreveu. Beijão!
Que post maravilhoso, Alê… senti um negocinho bom no coração vendo as fotos e lendo suas palavras. Me deu uma sensação de nostalgia, esperança e também uma vontade enorme de fotografar (ahhh sddss camera)
Obrigada por compartilhar coisas assim com a gente, faz esquecer um pouco da loucura. <3
Que bom que consegui despertar esperança em você e vontade de fotografar. Obrigada você por comentar e me apoiar. Tamo junta! <3