Estava eu passeando casualmente pelo Kurazh Bazar no ano passado e resolvi parar para dar uma olhada nos LPs. Me deparei com vários discos de bandas famosas, mas tudo escrito em cirílico e achei as artes das capas muito engraçadas. Claro que levei pra casa uma edição do “Led Zeppelin IV” com uma capa muito peculiar. Quanto mais eu olhava para aquela capa e todos os seus detalhes, mais intrigada ficava. Lógico que dei uma fuçada nas interwebs pra ver se encontrava alguma informação e descobri várias coisas que serão devidamente compartilhadas nesse post.
Primeiramente, fiquei curiosa para saber se o disco era realmente do Led Zeppelin ou se era alguma banda da União Soviética tocando Led Zeppelin. Para a minha alegria, quando coloquei o disco para tocar, descobri que era realmente um disco do Led Zeppelin e com aquele barulhinho delicioso e nostálgico de disco de vinil antigo (os novos não possuem esse barulhinho, infelizmente). Na verdade, não era um disco, mas dois pelo preço de um porque veio também o “Houses of The Holy”.
As capas parecem com as capas originais, mas não são exatamente iguais. A foto do tiozinho deixa isso bem evidente, mas as criancinhas do “Houses of The Holy” quase me enganaram. Esses discos são de um selo chamado Antrop e as capas eram impressas em uma igreja de São Petersburgo. Quando vi essa informação sobre a igreja na contracapa, fiquei intrigadíssima pensando “uma igreja vendendo discos do Led Zeppelin? não faz o mínimo sentido!”. E foi assim que encontrei esse vídeo, onde o rapaz explica direitinho a história toda e mostra os discos da coleção dele (ele também tem esses do Led Zeppelin).
Andrey Tropillo era o dono do selo Antrop e ele trabalhava na Melodiya, que era a gravadora oficial de discos na União Soviética. Ele era produtor e engenheiro de som, e resolveu fazer umas cópias paralelas dos discos de bandas ocidentais. Para evitar problemas com direitos autorais das capas, ele criava essas versões alternativas, mudando alguns detalhes com colagens e tals. O papel usado nas capas é bem vagabundinho, fica na cara que é um piratão, mas o som dos discos é bem ok.
Gostei tanto de descobrir essa história toda que acabei começando uma coleção de discos soviéticos. Contei nesse post que fui numa outra edição do Kurazh Bazar e garimpei mais uns disquinhos por lá. Minha professora de ucraniano também contribuiu para a minha coleção me doando alguns discos que ela tinha em casa.
Os discos da Antrop são considerados um mercado cinza, mas na época do Stálin existia um mercado negro mesmo porque só era permitido ouvir música controlada pelo governo. As músicas proibidas eram gravadas em filmes de raio-X e por isso eram chamados de “bones” ou “ribs”. Durante a minha caça por informações sobre o bootleg que comprei, descobri o projeto X-Ray Audio.Vou deixar aqui embaixo o vídeo do Tedx Cracóvia de 2015, onde o criador do projeto, Stephen Coates, explicou como ele descobriu a existência e a história por trás dos “bones”.
Eu amo música e não consigo imaginar a minha vida sem essa forma de arte, então entendo completamente esse comportamento das pessoas se arriscarem para conseguir ouvir música censurada. Esse mercado negro existia para várias coisas, a música é só um exemplo. A arte é muito poderosa e não há censura que consiga detê-la. Sempre vai ter um subversivo pronto para quebrar alguma regra hehe. Espero que tenham gostado de descobrir mais um aspecto da história do leste europeu junto comigo.
Que interessante Alê saber sobre esse mercado clandestino que existia pra possibilitar ouvir músicas censuradas pela época. Legal tua coleção e gostei bastante dessa capa alternativa com o tiozinho do cachimbo!
Morri de rir com essa capa e foi uma grata surpresa quando ouvi o disco e ele está em perfeito estado. Uma verdadeira relíquia! E adorei pesquisar e descobrir mais informações sobre a URSS por conta desse disco.
CARACA Alê! Isso é algo que eu nunca tinha parado pra pensar sobre a época da uniao soviética. Mesmo com tanta informaçao que temos por aqui em museus e livros, a música nunca é bem representada ao meu parecer. Led Zeppelin é uma das minhas bandas favoritas, fiquei de cara com essa capa, achei demais mesmo! Vou começar a procurar discos aqui também, haha!
Oi Ana! Que delícia saber que você também é fã de Led Zeppelin! Menina, procura os discos por aí pq eles valem ouro e o povo do leste (pelo menos da Ucrânia) ainda não descobriu isso, então vc ainda pode encontrar por um bom preço.
A capa alternativa do Led Zeppeln IV é muito boa! Hahaha!
Quanta informação bacana, Alê! É tão interessante ver o que nós podemos fazer para ouvir música, para ter acesso à arte de um modo geral.
Acho que você tá criando uma coleção bem valiosa, viu. O poder histórico desses discos é incontestável. E esses discos que você ganhou da sua professora, são de quais bandas/artistas?
Um abraço. <3
Essa capa é demais, zoeira total! Hahaha Não faço ideia que artistas são esses dos discos que a professora me deu. Provavelmente, são artistas que eram populares no leste europeu há muitos anos. Grande abraço! <3
Adorei essa descoberta! Assim como as capas, as cores dos discos, as imagens. Me interesso muitíssimo pela URSS, vou enviar esse post a um amigo meu.
Que legal, obrigada por comentar! Tem alguns posts com a tag URSS aqui no blog, caso você queira ler mais.
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